palavras do ventre
sábado, 1 de agosto de 2009
desabafos
- águas necessárias_
não sei se o tempo me acontece, ou se aconteço no tempo.
em noites de lua cheia costumo uivar, junto-me aos lobos.
nas manhãs de abril, visto-me em contrições, ungida por resguardos de quaresma ando nos roxos-paixão, viuvando conformidades em respeitoso pranto, por cada cristão, dentro de mim - morto.
nunca sei minha meteorologia, mesmo em dias solares....dou de chover.
dizem :
- melancolia...emoções instáveis.
desdigo:
-descarrego de fardos ,cumulação de nuvens, sofrimento de densidades.
chovo :
por desalegrias
por desempatias
pode ser...
pode até nem ser.
não me importam as causas, não busco saber verdades.
simplesmente chovo.
chovo-me por desesperada necessidade.
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_delicadas...as lembranças_
se ainda te falo tudo que sinto
é porque sei...
na tua boca ficou o gosto que deixei
se não suportamos o tempo
se o tempo não nos suportou
não importa...
nos meus olhos os oceanos de teus olhares
minhas mãos amorizadas pelo amor que me ensinaste
este jeito ...
de catar estrelas
de beber ventos
de mastigar serenos
isadora dançando em matas
ainda existo
desenhando virtuoses de nossos ternos momentos
se ainda te falo tudo e tanto
é porque sei ...ainda me sentes
afinal,
madureci nos teus dentes.
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_ insuportabIlidades_
dias existem em que me pego com medo da palavra, a que disse, a des-dita, aquela que direi, a que não sei dizer.
é uma coisa clarice nos dentros,é um jeito lispector de resistIR-me.
as multidões me apavoram, o mar me sufoca, a janela aberta me assombra.
" reviro-me em ostra, respingada de limão, é claro."* ( de Clarice)
desensofrida, sangro em desgostares, agonizo por desempatias.
bebo doses amargas de pânico.
antagonicamente sinto , que minha esperança ( retinta demais) é tola , quase beirando ao patético, e ao mesmo tempo faço-me em compasso de aguardos.
aguardar o quê?
as horas passando, o tempo envelhec(S)endo-me?
ponho-me a espiar a vida, e seguro nas mãos uma solidão doloridamente insuportável, cheia de ausentes-presenças- falantes, dos lugares por onde andei, das pessoas que ganhei, daquelas que perdi, sem nem mesmo saber o como...sem entender sequer se houve um talvez.
talvez, é a palavra mais ferina e acre.
talvez...se pudesse viver de novo.
talvez...se pudesse passar a limpo.
talvez...se outras escolhas.
talvez!
advérbio tinhoso e martelante, incógnita destes meus existires.
um tanto-muito, desventado feito páginas velhas, letras esmaecidas por descuidos, ou desusos.
misturadas emoções plasmadas e retidas no palato da alma, travadas na minha mais irrestrita incompetência , por não saber o que fazer delas.
escreViver de palavras pode ser livramento, mas é também amargoso , quando o Verbo revira-se maior que nossa miudeza, editando confundimentos em nossos olhares, rasurando perceberes, macerando claudicantes certezas, replicando infinitos de incertezas.
dor de incerteza é aguda.
finca .
fuso afiado na mó do destino, tecido no tear das parcas, que sem aviso prévio azucrinam seus dedos , e cortam o fio da nossa meada, desenovelando as fibras, embaraçando os fios da vida.
o que me adoece mesmo é esta insuportablIdade -estática diante as multipliCidades dos meus sentires,dúbios-fundos-confusos.
meu cão , é sábio, conserva um permanente brilho de alegria no amarelo dos olhos, latidos ternura saltando sobre mim, independente desta persistente fundeza, ele me acolhe sem questionamentos,sem variantes.
como ele, estas delicadas violetas e valentes orquídeas, florando e acontecendo aqui , dentro das normalidades de suas naturezas.
eu que tantas vezes, nem rosno...incontáveis estações nunca desfloro,suplico aprendizados.
eles sorriem e me abraçam , entre suas patas e pétalas aquecidamente amorosas.
enrosco-me nestas serenidades.
padeço é de ser gente.
quem sabe, um dia, talvez.... com meu cão , com meu jardim....aprendo.
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_ minhas cinzas...espalhem nos verdes das Gerais_
para Eric
não me enterrem em isla negra,
são mares de Neruda e suas águas nem conheço
tornem-me cinzas pelas matas e cafezais
no alto de minhas colinas
verdejantes das Gerais
deixem meu último descanso
lá no pico da bandeira
sob as quedas mais recônditas
banhando pedras esteiras
onde um dia me deitei nos braços que cobicei
no corpo mais desejado do único homem que amei
aos montes entreguem meu sono
adubando com sementes- sonhos o solo que nos acolheu
assim recolherei as vozes
deste amor que nunca morreu
como esperança perpétua no leito de minha terra
espalhem meu último desejo:
dormir-me entre montanhas sentindo brisas histórias
ventando nos vãos de serras
páginas ...vida...memórias
se passarem pelas Gerais
ouvindo de verdes- alturas um canto
sou eu ...
para o meu amado
dizendo da eternidade:
te amo...
te amo...
te amo..
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_ SOLETRANDO A SOLIDÃO_
A dor que sinto não é de vazios
Dentro de mim,
vozes -ternuras
mãos- aquecidas
palavras - ecoantes
promessas- vidas
Dentro de mim,
um rio
uma pedra
uma trilha
uma rua
uma estrela
um apito
um trem
uma aldeia
A dor que sinto é de cheios
Dentro de mim...moradas
Carrego multidões alvoroçadas
A dor que sinto...não é de retalhos
Padeço de inteiros!
terça-feira, 20 de maio de 2008
_ ROGATÓRIO _
daí-me , senhor :
uma qualquer fatia de tempo sem uivos , sem gemidos
uma parte de alma que me falta , arrancada no grito
dái-me o credo como ungüento para essa minha fé rasgada
e o poente, senhor, para os joelhos vergados na hora sacra
daí-me, senhor:
uma tarde plena de borboletas lépidas e serenas
dai-me a palavra desnuda de iniqüidades e dor
semeia , senhor , no meu olhar a quietude de lírios dos campos
livrai-me ,suplico, do clamor dos inocentes e dos proscritos
do azeite e do vinho vertidos nas catedrais da ignomínia
dai-me o esquecimento das epistolas flácidas dos sacerdotes
de oficio pirotécnico ,carnavalesco e ensandecido
poupai-me, senhor,
da miséria dos desprezíveis
do ventre prenhe da menina de rua
dos maltrapilhos amontoados nos albergues e abrigos
das mães da sé chorando seus filhos
do lixo-homem queimando nas calçadas
de todas as izabelas agonizantes nos meus dias
para minha memória , dai-me senhor
a memória mais completa do esquecimento esquecido
e um jardim de pedras, sem flores ,sem passos, sem risos
dai-me, senhor ,uma noite de sono:
- preciso!
domingo, 18 de maio de 2008
_súplica _
quando partires de mim
leva os teus restos e tuas sombras
leva teus discos ,teus livros ,teus passos
quando partires de mim
desate teus nós, arranque teus laços
afogue os retratos , mate os abraços
quando partires de mim
deixa-me a tardes de sol pelas trilhas da tijuca
deixa o meu olhar sobre o mirante do leblon
e minhas asas flanando na pedra da gávea
quando partires de mim
deixa-me a chuva no rosto, os pés descalços na praia
e esta vontade infinita de voar livre de saudades
deixa- me também vazia de lágrimas
quando partires de mim:
_ definitivamente, deixa-me!
nanamerij
sábado, 17 de maio de 2008
Cantigas de Amigos
Cantigas de Amigos
_ na fina pedra sinto o teu sorriso: _
José Félix
-e fica a visão de tua imagem
no perfume desta aragem
balançando memórias no vôo retilíneo
das gaivotas amoradas com azuis
que tocam o acaso da vida
na vida que toca em nós
e fica a lua velando nossos sonhos
que adormecem meninos
apesar deste distante olhar sobre o tempo que já não é
e mudo teu corpo caminha e se desmembra
restituindo o silêncio das horas que te configuram
e te sugerem entre gestos interrompidos :
_na fina pedra perpetuadas as marcas do teu sorriso
nanamerij
maio/2008
_ainda te pressinto em cada esquina!
nanamerij
na fina pedra sinto
o teu sorriso.
as dálias, no jarrão
de porcelana
têm a marca
dos teus dedos finos
despetalando a corola da flor.
o pedúnculo solitário e grave
é a trave dos ossos
carcomidos
na admiração da vida ao acaso.
é o teu rosto
que me ruga a face
e me contempla a existência dada.
josé félix
2008.517
_ poema debruçado sobre ossos _
sem vigília a palavra se desgarra
lacra as sobras de vida em mim
inunda olhares e se debruça no poema
sobre os ossos da memória em estio
tudo teu é soterrado:
_ tua voz
_ teu cheiro
_ teu veneno
de teu rosto já não me lembro
perdi lembranças das tuas mãos
esqueci o amanhecer de teus olhos
o passado não me abre suas portas
nem me diz por onde caminhas
mas...
_ainda te pressinto em cada esquina!
nanamerij
fevereiro/2008
terça-feira, 6 de maio de 2008
_ antropofagia _
_ antropofagia _
flexível como haste do salgueiro,ela vibra . em suas mãos sabores vermelhos e danças da noite atiçam todas as labaredas de sua fome que passeia e desliza entre vertigens e fé .
pelo sacrário da carne escoam todos os seus afluentes " na hora do desejo",chama que arde na pele do vento, do tempo.
na sua da boca farta de inventos, doçuras e iras. ela grita avessos,ausências e espinhos que ferem a seda.
nua cavalga o amor até prover pleno esquecimento de si ,liquida persegue o gozo como quem persegue tulipas ,embriagada e interdita,bebe do vinho,come da carne :- fêmea, santifica-se !
Amina Ruthar
_ notícias da casa paterna _
( esta foto é da cidadezinha onde nasci)
_ notícias da casa paterna _
vozes escorrem pelas artérias da casa
súplicas das almas de sonhos, outrora nossos:
-a memória está lá, em pele e ossos
a vista nua, não verás passos de infâncias
a farfalhar alegrias nas retinas dos corredores:
- mas estão lá, gravados nas veias das manhãs
em letra rubra no pergaminho das horas
o solo de nossa história é lágrima nos objetos calados
luto perpétuo por todo azul escrito um dia
no musgo do tempo notícias de ser feliz não há:
_ nem de deus!
Amina Ruthar
_ uma prece,um grito, um recado _
_ uma prece,um grito, um recado _
( para Amélia Pais, mestra maior)
sou sertão, veredas
sou as curvas e caminhos do serrado
leio-te nas leiras áridas do solo infértil do meu querer agreste
meus atalhos são poemas ávidos de sede
onde a seca mata e fere
sou terra trincada , ventre vazio
fiqueira seca onde o amor não vingou
carrego a gana do mundo pelas quebradas do mapa
que encolhe o chão e mata esperança e fé
sou aquela que um dia esquecestes numa qualquer estrada
sem aviso, sem bilhetes, sem recados
de minha romaria não sabes sequer um pedaço
menos conheces do meu grito infame,sou :
_ esta morta de fome!
nanamerij
sexta-feira, 2 de maio de 2008
desdita
amor sem qualquer pudor
arditie
a lágrima acorrentada sufoca
caco de vidro no lado esquerdo do peito
espinho de peixe na palavra retida
no profundo do medo o inviável perdão
que agoniza árido de vontades
lâmina afiada sangrando a poesia
morro –me pedra no meio fio
sem qualquer trava no caminho
escorrem-me ainda fera ferida
sobras de amor agreste,seco rio
morro-me assim...despercebida!
nanamerij
permanências
...nas minhas retinas pairam incompletudes
lágrimas de um tempo sem terminar
trago algas nas mãos para cerzir saudades
e este jeito azul de ainda te olhar
por isto,
nos meus lábios o sal eterno de gosto mar!
ainda te espero no porto -esperança
enquanto sagro preces para iemanjá
quem sabe voltas na compaixão das ondas
num qualquer marear...
assim velo-te
nos lábios sal de gosto - mar
e o jeito longe de azul- olhar!
nanamerij
quinta-feira, 24 de abril de 2008
Met_ades
( para Amélia, com afeto)
a vida me faz em metades:
_ metade gente
_metade bicho
_metade natureza
_metade alegria
_metade tristeza
tem dias que que carrego o mundo dentro de mim.
em outros, sou vazio sem fim.
tem dias que uivo noite adentro.
em outros gorjeio feito ave.
adejando-me por entre nuvens e ventos,
às vezes piso em marte.
tem dias que chovo,
ora fina, ora torrencialmente.
em outros broto-me semente.
já desabrochei flor,
já despontei sol,
já adormeci loba,
já amanheci rouxinol.
muitas vezes tento juntar as partes.
nunca consigo!
elas se rejeitam...sofrem de incompatibilidades.
assim me levo ... tempo que segue, pedaços- metades!
nanamerij
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008
_soletrando o tom _
multidões habitam as grutas dos temores
suas vozes ecoam em gritos fundos-agudos
derramam nos vazios de minhas pálidas noites
palhetas entristecidas de todas as cores-dor
geme no vermelho - ira
canto dos alucinados
suspiram em amarelas-tristezas
elegias dos desesperados
solfejos verdes soletrando o medo
pincelam esmaecidas e agonizantes sombras
nas faces de serenidades amordaçadas
desfeito em lágrimas
escorre lamentoso o branco da paz
laranjas, carmins, malvas, vessis
unem -se em contrição
aos sépias, ocres, terras e cobaltos
ora barítonos...ora contraltos
editam melancólico coro- roxo-paixão
ressoando em negro é de pânico o refrão
ton sur ton este salmo gris
suplicantes acordes de misericórdia
regidos por desfalecido anil
partitura de sustenIdos
matizando prantos em todas as notas
exéquias urbanas
ofícios sacro-profanos
cortejo em cinzas da esperança- morta!
nanamerij
fevereiro/2008
domingo, 17 de fevereiro de 2008
_poema debruçado sobre ossos _
lacra as sobras de vida em mim
inunda olhares e se debruça no poema
sobre os ossos da memória em estio
tudo teu é soterrado:
_ tua voz
_ teu cheiro
_ teu veneno
de teu rosto já não me lembro
perdi lembranças das tuas mãos
esqueci o amanhecer de teus olhos
o passado não me abre suas portas
nem me diz por onde caminhas
mas...
nanamerij
fevereiro/2008
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008
plasma e sangue
os pecados cimentados dentre lajes e paredes
vomito as mentiras sujas na raiva que rezo:
- cólera que sangra no átrio da catedral
impotentes os santos apenas velejam pelo céu
desconhecem essa fome de pedra
que dói e crava :
já não me resta sequer um pedaço de fé
recuso o trigo dos pobres
renego a uva benta
dispenso a salvação
o que sou sei
-não a distorcida visão de olhos alheios
caminho em sozinhez a procura do segredo
agastamentos sem fim do meu próprio enredo
pela terceira margem permeio
já não mais aspiro os altos
menos me importam eternidades
finadas as minhas vontades
meu ódio mata-me
no sulco das veias goteja
o que sabem os santos de cada igreja?
nanamerij
fevereiro/2008
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008
_ alforria _
-fêmea no cio!
nanamerij
fevereiro/2008
domingo, 10 de fevereiro de 2008
- morro todos os dias -
- morro todos os dias -
O dia de morrer vive aberto dentro de mim.
Copio das rosas a resignação
Com as hortênsias ensaio tons de roxo que tecerão minha manta
Busco nas árvores a dignidade dos fortes quando tombam
Na alvura dos lírios recolho o branco que há de cobrir minhas faces
Ouço sabiás para escolher a melodia dos prantos
Leio os gemidos das matas agonizando em chamas
Cato semelhanças!
Quero morrer...
com a serenidade de um gerânio...
com a leveza de uma avenca...
com a elegância de um outono...
Apenas um dó ...bemol !
Sem sustos
Sem espantos
Sem escândalos
Quero cerrar as pálpebras com o apaziguamento contido de uma dorme- maria.
Por isto...treino mortes todos os dias!
nanamerij
fevereiro/2008
as vozes da casa silenciam em púrpuras horas
todas as minhas ausências sentam-se a mesa
que ainda respira o último fôlego de memórias
tímidas as palavras de seus recuos regressadas
ancoram-se inutilmente entre vãos das portas
os passos de meu pai atravessando os sonhos
dizem de vesperais melancólicos sobre o jardim
e as mãos de minha mãe ainda alisando lutos
retiram o pó e fuligem do tempo que me devora
em mudez plástica deus vai e vem como um tijolo:
- esmaga minha história!
( Amina Ruthar)
nanamerij
janeiro/2008
Sem uma longa nota de cello ao fundo, eis-me aqui, divagações em preto no branco:-tempo, corpo sem grandeza.
Penso, logo existo?
Não sei se quero essa circunstância filha-falha dos pensamentos, menos esse jeito de existir entre o que aprendi (ou desaprendi) ,dos pesos, medidas e consistências.
O que arde é a memória!
Perco-me na fonte dos primeiros gritos-espantos, no esquecimento da urna primitiva de palavras virgens.
O que sangra é o remorso:- de um domingo qualquer,lançado no vale dos despercebidos;- de todas as taças de vinho, afogando as alegrias inacabadas;- dos beijos de despedidas, condenados aos desterros do nada.
Pois é, ainda me sinto consignada em tudo isso, no sorriso das tardes, nas manhãs de sábado beira-mar, nas ausências de meus pés na areia... nas graças da vida.Perdidos!
Pai...
pegue logo o cavalete, tela virgem, seus pincéis.
devolva minha menina,
que o tempo arrastou sem pedir e não mais sei onde está.
apenas sei que perdi!
trance meus cabelos em cachos, madrigado nos trigais.
risque olhos de esperança, catada nos capinzais.
busque nas rosas vermelhas o colorido das faces, deixado em nossos quintais.
a cambraia de meu vestido brilhando na goma caseira, o meu jeito pequenino, de andar meigo e faceiro.
tire pai..desta palheta!
com leve toque de marta, pinçado em fibras mágicas, apague estas todas marcas, desmanche esta cor tristeza, seque o cinza destas lágrimas.
pinte um sorriso branco, que ecoe em cada canto.
tire pai...o meu quebranto!
faça um bouquet de gerânios , colhido em nossos jardins,farto de todos os tons...derramados sobre mim
quero de fundo a varanda, aonde as histórias chegavam junto com o entardecer, braçadas de buganvília florando na cerca viva, feito rameira atrevida...que dava gosto de ver
pinte ,
risos ...
cantorias
cobra-cega ...
passa anel
folguedos de pique esconde
com matizes do arco-íris...despontando lá nos montes
porque tinta há de sobrar...pinte sua mão na minha, benza com reza e magia...que é pra nunca mais soltar!
O dia acorda por dever de ofício.
A cidade não amanhece.
Velo este povo adormecido.
Caminho na Praia dos Ossos, levada pelos murmúrios de histórias, ouvindo falares entre vãos das pedras escondidos.
Aqui se vive de amor.
Aqui se matou por amor.
Aqui passou Brigite Bardot.
Os Pescadores na madrugada pegaram rumos- mares, meus olhares miúdos já perderam visão dos barcos coloridos.
Vozes de passageiros dos sonhos , cantam segredos,contritas.
Ouço, deixo que caminhem a meu lado.
Seguimos minha vida e eu, buscando entender o que dizem.
Pairo entre azuis, placidamente estendidos.
A quietude tem alongados de infinitos, anuncia descobrimentos, risca profundos.
Da vida, folheio minhas páginas.
Leitura de interiores, alguns sombrios, outros difusos.
Registros de pressas, descuidos, perceberes de que a felicidade passou por mim vezes muitas e nas maratonas afobadas do ter, nem vi.
Muito não ouvi.
Tanto não toquei.
Quanto não vivi.
Sabores e gostos perdidos ,atravessam-me com silêncios compridos, devassando memórias em matizes doloridos.
Sou -me solidão e plenitudes.
Pescadora de mim , preciso destas águas para afogar-me pagã, para batismo de renascimentos d'alma, turva e cinza.
Registro as razões do possível, gravo os caminhos do impossível, ondulando-me nas lições deste mar , nas letras de um alfabeto não escrito.
Terna a brisa que me acolhe em conchas nesta manhã , onde me sei viandante e fugaz.
Armação de Búzios dorme, derramando em meus dentros códigos de re-inventar.
Leio seus tempos ,enquanto aprendo pontos de Paz.
Ao longe...um vulto acena ,cato seu gesto como sinal.
Acho que ele me diz: -vá ...antes que seja nunca mais.
Sinto um rufar de asas ventando esperanças em minhas mãos.
Re-junto-me de possibilidades entre Búzios...na Armação.
nanamerij
Armação de Búzios/Praia dos Ossos
Solitude
Um dia.... pari Meninos que se fizeram homens, que teceram caminhos...que desbravaram vida, que seguiram mundos.
Um dia... lavrei a terra que me deu sulcos, que beberam sementes...que viraram troncos que dão frutos fecundos.
Um dia.... não fiei folhas não teci páginas, não gravei linhas, não bordei rimas
Versos não fiz!
Quando árida de mim: - banhei-me em poesias.
Submersa persisto ... em vendavais e tormentas
Vezes risco tristezas... outras rabisco parcas alegrias.
Horas raras : - sou calmarias.
Há de ser porque sou Ana e não Maria?
nana merij
janeiro/2008
¡El conoce mi alma!
Cuando anochece me visita,
acaricia mi rostro,
enjuaga mi dolor,
alisa mi frío.
Algunas veces llora.
Cuando pregunto: ¿por qué?
Coloca en mis manos una lágrima rojo-derramante,
y, habla :
" - es tristeza mi amada, sin usted el paraiso es nada.
Por eso , regreso en las madrugadas."
¡El conversa conmigo!
Cuenta historias de estrellas,
desafía lugares de viento,
enreda casos de ángeles,
dice que el infinito es azul y muy profundo.
Con su amor , eternamente me fortalece y fecunda.
Cuando duermo, el se va , dejando mi alma apacible.
Amorada, recuerdo mañanas verdes , esperanza resucitada.
nanamerij
dias existem em que me pego com medo da palavra, a que disse, a des-dita, aquela que direi, a que não sei dizer.
se ainda te falo tudo que sinto é porque sei...na tua boca ficou o gosto que deixei,se não suportamos o tempo...se o tempo não nos suportou, não importa...
nos meus olhos , oceanos de teus olhares ,minhas mãos amorizadas pelo amor que me ensinastes
e...este jeito de catar estrelas,de beber ventos, de mastigar serenos.
se ainda te falo tudo e tanto, é porque sei ...ainda me sentes.
afinal,madurei nos teus dentes.
em noites de lua cheia costumo uivar, junto-me aos lobos.
nas manhãs de abril, visto-me em contrições. ungida por resguardos de quaresma ando nos roxos-paixão, viuvando conformidades em respeitoso pranto, por cada cristão, dentro de mim - morto.
nunca sei minha meteorologia, mesmo em dias solares....dou de chover.
dizem :
- melancolia...emoções instáveis.
desdigo:
-descarrego de fardos ,cumulação de nuvens, sofrimento de densidades.
chovo :
por desalegrias
por desempatias
pode ser...pode até nem ser.
não me importam as causas, não busco saber verdades.
simplesmente chovo!