terça-feira, 20 de maio de 2008


_ ROGATÓRIO _



daí-me , senhor :

uma qualquer fatia de tempo sem uivos , sem gemidos

uma parte de alma que me falta , arrancada no grito

dái-me o credo como ungüento para essa minha fé rasgada

e o poente, senhor, para os joelhos vergados na hora sacra



daí-me, senhor:

uma tarde plena de borboletas lépidas e serenas

dai-me a palavra desnuda de iniqüidades e dor

semeia , senhor , no meu olhar a quietude de lírios dos campos



livrai-me ,suplico, do clamor dos inocentes e dos proscritos

do azeite e do vinho vertidos nas catedrais da ignomínia

dai-me o esquecimento das epistolas flácidas dos sacerdotes

de oficio pirotécnico ,carnavalesco e ensandecido



poupai-me, senhor,

da miséria dos desprezíveis

do ventre prenhe da menina de rua

dos maltrapilhos amontoados nos albergues e abrigos

das mães da sé chorando seus filhos

do lixo-homem queimando nas calçadas

de todas as izabelas agonizantes nos meus dias



para minha memória , dai-me senhor

a memória mais completa do esquecimento esquecido

e um jardim de pedras, sem flores ,sem passos, sem risos



dai-me, senhor ,uma noite de sono:
- preciso!

6 comentários:

lula eurico disse...

deu sôdade e vim te ler, te ver...
abraçamigo e fraterno.
Paz!

Unknown disse...

Idem... Saudades de vc Nana... Hoje estava ouvindo sua voz em "Quando o poeta dorme" muito lindo!!! Saudades de vc...

ml.ton disse...

Dai-me Senhor,
flores silvestres,
para florir os campos,
cheios de pedras,
do sentimento humano...

ml.ton disse...

muito belos os seus versos...

...não pare de postar...

lula eurico disse...

Por onde andas, Poeta? Venha nos ofertar essas palavras do ventre.
Abraçamigo e fraterno.

GraçaCarpes disse...

Passei/para/conhecer.
Voltarei/com/mais/calma.
Bjo
:)