quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

_soletrando o tom _


_soletrando o tom _


multidões habitam as grutas dos temores
suas vozes ecoam em gritos fundos-agudos
derramam nos vazios de minhas pálidas noites
palhetas entristecidas de todas as cores-dor

geme no vermelho - ira
canto dos alucinados
suspiram em amarelas-tristezas
elegias dos desesperados
solfejos verdes soletrando o medo
pincelam esmaecidas e agonizantes sombras
nas faces de serenidades amordaçadas

desfeito em lágrimas
escorre lamentoso o branco da paz

laranjas, carmins, malvas, vessis
unem -se em contrição
aos sépias, ocres, terras e cobaltos

ora barítonos...ora contraltos
editam melancólico coro- roxo-paixão


ressoando em negro é de pânico o refrão


ton sur ton este salmo gris


suplicantes acordes de misericórdia
regidos por desfalecido anil

partitura de sustenIdos
matizando prantos em todas as notas

exéquias urbanas
ofícios sacro-profanos
cortejo em cinzas da esperança- morta!

nanamerij

fevereiro/2008



domingo, 17 de fevereiro de 2008

_poema debruçado sobre ossos _


sem vigília a palavra se desgarra
lacra as sobras de vida em mim
inunda olhares e se debruça no poema
sobre os ossos da memória em estio

tudo teu é soterrado:
­_ tua voz
_ teu cheiro
_ teu veneno


de teu rosto já não me lembro

perdi lembranças das tuas mãos
esqueci o amanhecer de teus olhos
o passado não me abre suas portas
nem me diz por onde caminhas

mas...

_ainda te pressinto em cada esquina!

nanamerij

fevereiro/2008

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

plasma e sangue

plasma e sangue


( para Júlia, amiga querida)

as verdades seladas por baixo dos tapetes
os pecados cimentados dentre lajes e paredes
vomito as mentiras sujas na raiva que rezo:
- cólera que sangra no átrio da catedral

impotentes os santos apenas velejam pelo céu
desconhecem essa fome de pedra
que dói e crava :


_afiado punhal

já não me resta sequer um pedaço de fé

recuso o trigo dos pobres
renego a uva benta
dispenso a salvação

o que sou sei
-não a distorcida visão de olhos alheios

caminho em sozinhez a procura do segredo
agastamentos sem fim do meu próprio enredo

pela terceira margem permeio
já não mais aspiro os altos
menos me importam eternidades
finadas as minhas vontades

meu ódio mata-me
no sulco das veias goteja



o que sabem os santos de cada igreja?


nanamerij
fevereiro/2008

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

_ alforria _


_ alforria _

meus versos nascem alforriados

filhos de ventre livre

alucinados


pinto a boca com batom encarnado

matiz que deixava seus olhos irados


tudo para não cair na tentação de gritar seu nome

antes que minha alma tombe

e o corpo

desfaleça morto de fome

nos seus braços


saio pela noite por total carecimento de ocupar vazios

adejo-me assim , porque lua cheia:
-fêmea no cio!

nanamerij
fevereiro/2008

domingo, 10 de fevereiro de 2008

- morro todos os dias -






- morro todos os dias -

O dia de morrer vive aberto dentro de mim.
Copio das rosas a resignação
Com as hortênsias ensaio tons de roxo que tecerão minha manta
Busco nas árvores a dignidade dos fortes quando tombam
Na alvura dos lírios recolho o branco que há de cobrir minhas faces
Ouço sabiás para escolher a melodia dos prantos
Leio os gemidos das matas agonizando em chamas
Cato semelhanças!
Quero morrer...
com a serenidade de um gerânio...
com a leveza de uma avenca...
com a elegância de um outono...
Apenas um dó ...bemol !
Sem sustos
Sem espantos
Sem escândalos
Quero cerrar as pálpebras com o apaziguamento contido de uma dorme- maria.
Por isto...treino mortes todos os dias!

nanamerij
fevereiro/2008






_das horas púrpuras _

as vozes da casa silenciam em púrpuras horas
todas as minhas ausências sentam-se a mesa
que ainda respira o último fôlego de memórias
tímidas as palavras de seus recuos regressadas
ancoram-se inutilmente entre vãos das portas

os passos de meu pai atravessando os sonhos
dizem de vesperais melancólicos sobre o jardim
e as mãos de minha mãe ainda alisando lutos
retiram o pó e fuligem do tempo que me devora

em mudez plástica deus vai e vem como um tijolo:
- esmaga minha história!

( Amina Ruthar)



nanamerij

janeiro/2008



Tempo...tempo...tempo...

Sem uma longa nota de cello ao fundo, eis-me aqui, divagações em preto no branco:-tempo, corpo sem grandeza.


Penso, logo existo?


Não sei se quero essa circunstância filha-falha dos pensamentos, menos esse jeito de existir entre o que aprendi (ou desaprendi) ,dos pesos, medidas e consistências.


O que arde é a memória!


Perco-me na fonte dos primeiros gritos-espantos, no esquecimento da urna primitiva de palavras virgens.


O que sangra é o remorso:- de um domingo qualquer,lançado no vale dos despercebidos;- de todas as taças de vinho, afogando as alegrias inacabadas;- dos beijos de despedidas, condenados aos desterros do nada.


Pois é, ainda me sinto consignada em tudo isso, no sorriso das tardes, nas manhãs de sábado beira-mar, nas ausências de meus pés na areia... nas graças da vida.Perdidos!


Tempo... tempo...tempo...tempo!

Faltou o tempo propício... faltou um azul plausível.


Sabe, esse opaco em minhas retinas é porque o olhar perdeu o tom e quebrou asas entre as estreitezas de qualquer fardo.

Olho bom é alado! (Amina Ruthar)


nanamerij

janeiro/2008



_ talvez .porque junho...


a vida que te diluiu em mim aqui está

no tanger de moinhos

no alecrim por campos a semear-se sozinho

no vôo de andorinhas a tecer ninhos

enquanto em saudação a manhã da paineira o tronco se abre em nova cor

no lamento absoluto das gaivotas a vida que te diluiu em mim aqui está

eco de memória como escuro murmúrio do mar entre seixos e abrolhos

talvez porque junho ...

tens lírios findos à tua volta

e confinas um réquiem nos olhos


nanamerij

janeiro/2008
-PICTOGRAFIA -

Pai...
pegue logo o cavalete, tela virgem, seus pincéis.
devolva minha menina,
que o tempo arrastou sem pedir e não mais sei onde está.

apenas sei que perdi!

trance meus cabelos em cachos, madrigado nos trigais.

risque olhos de esperança, catada nos capinzais.

busque nas rosas vermelhas o colorido das faces, deixado em nossos quintais.

a cambraia de meu vestido brilhando na goma caseira, o meu jeito pequenino, de andar meigo e faceiro.

tire pai..desta palheta!

com leve toque de marta, pinçado em fibras mágicas, apague estas todas marcas, desmanche esta cor tristeza, seque o cinza destas lágrimas.

pinte um sorriso branco, que ecoe em cada canto.

tire pai...o meu quebranto!

faça um bouquet de gerânios , colhido em nossos jardins,farto de todos os tons...derramados sobre mim

quero de fundo a varanda, aonde as histórias chegavam junto com o entardecer, braçadas de buganvília florando na cerca viva, feito rameira atrevida...que dava gosto de ver

pinte ,
risos ...
cantorias
cobra-cega ...
passa anel
folguedos de pique esconde
com matizes do arco-íris...despontando lá nos montes

porque tinta há de sobrar...pinte sua mão na minha, benza com reza e magia...que é pra nunca mais soltar!




nanamerij


janeiro/2008



_ Búzios _


O dia acorda por dever de ofício.
A cidade não amanhece.
Velo este povo adormecido.

Caminho na Praia dos Ossos, levada pelos murmúrios de histórias, ouvindo falares entre vãos das pedras escondidos.

Aqui se vive de amor.
Aqui se matou por amor.
Aqui passou Brigite Bardot.

Os Pescadores na madrugada pegaram rumos- mares, meus olhares miúdos já perderam visão dos barcos coloridos.

Vozes de passageiros dos sonhos , cantam segredos,contritas.
Ouço, deixo que caminhem a meu lado.
Seguimos minha vida e eu, buscando entender o que dizem.

Pairo entre azuis, placidamente estendidos.

A quietude tem alongados de infinitos, anuncia descobrimentos, risca profundos.

Da vida, folheio minhas páginas.
Leitura de interiores, alguns sombrios, outros difusos.
Registros de pressas, descuidos, perceberes de que a felicidade passou por mim vezes muitas e nas maratonas afobadas do ter, nem vi.
Muito não ouvi.
Tanto não toquei.
Quanto não vivi.
Sabores e gostos perdidos ,atravessam-me com silêncios compridos, devassando memórias em matizes doloridos.

Sou -me solidão e plenitudes.
Pescadora de mim , preciso destas águas para afogar-me pagã, para batismo de renascimentos d'alma, turva e cinza.
Registro as razões do possível, gravo os caminhos do impossível, ondulando-me nas lições deste mar , nas letras de um alfabeto não escrito.

Terna a brisa que me acolhe em conchas nesta manhã , onde me sei viandante e fugaz.

Armação de Búzios dorme, derramando em meus dentros códigos de re-inventar.

Leio seus tempos ,enquanto aprendo pontos de Paz.

Ao longe...um vulto acena ,cato seu gesto como sinal.

Acho que ele me diz: -vá ...antes que seja nunca mais.

Sinto um rufar de asas ventando esperanças em minhas mãos.
Re-junto-me de possibilidades entre Búzios...na Armação.

nanamerij
Armação de Búzios/Praia dos Ossos

_ das possibilidades de um poema_


posso tecer um poema ...com pedaços de nuvens,retalhos de ventos, fios do orvalho,sedas de mares,meadas de primaveras,linhos de noites ,plumas de pássaros,cambraias de lagos.

posso bordar um poema...com os olhos da saudade, com os dedos dos segredos, com as mãos do desejo.

posso semear um poema...na terra amorada, no solo do cio, nos vales do gosto, nas leiras do gozo.
posso editar um poema...nas consoantes de silêncios aflitos,por entre vogais de vontades afogadas.
posso sonhar um poema -porto...com serenadas velas, tempestades amordaçadas,e a paz, ancorada em minha sala.
no poema...posso sangrar motivos, e este jeito chuva de ser, quase um grito.

nanamerij
janeiro/2008



Solitude

Um dia.... pari Meninos que se fizeram homens, que teceram caminhos...que desbravaram vida, que seguiram mundos.
Um dia... lavrei a terra que me deu sulcos, que beberam sementes...que viraram troncos que dão frutos fecundos.
Um dia.... não fiei folhas não teci páginas, não gravei linhas, não bordei rimas
Versos não fiz!
Quando árida de mim: - banhei-me em poesias.
Submersa persisto ... em vendavais e tormentas
Vezes risco tristezas... outras rabisco parcas alegrias.
Horas raras : - sou calmarias.
Há de ser porque sou Ana e não Maria?




nana merij

janeiro/2008

_ amor...tiempo infinito _


¡El conoce mi alma!

Cuando anochece me visita,
acaricia mi rostro,
enjuaga mi dolor,
alisa mi frío.


Algunas veces llora.

Cuando pregunto: ¿por qué?
Coloca en mis manos una lágrima rojo-derramante,
y, habla :

" - es tristeza mi amada, sin usted el paraiso es nada.
Por eso , regreso en las madrugadas."


¡El conversa conmigo!

Cuenta historias de estrellas,
desafía lugares de viento,
enreda casos de ángeles,
dice que el infinito es azul y muy profundo.

Con su amor , eternamente me fortalece y fecunda.

Cuando duermo, el se va , dejando mi alma apacible.

Amorada, recuerdo mañanas verdes , esperanza resucitada.

nanamerij
janeiro/2008
(tradução do Poeta Everardo Torres)








_ insuportabIlidades_


dias existem em que me pego com medo da palavra, a que disse, a des-dita, aquela que direi, a que não sei dizer.

é uma coisa clarice nos dentros,é um jeito lispector de resistIR-me.as multidões apavoram-me, o mar sufoca-me, a janela aberta é assombro.

" reviro-me em ostra, respingada de limão, é claro."* ( de Clarice)desensofrida, sangro em desgostares, agonizo por desempatias.

bebo doses amargas de pânico.antagonicamente sinto que minha esperança ( retinta demais) é tola , quase beirando ao patético, e ao mesmo tempo faço-me em compasso de aguardos.

as horas passando, o tempo envelhec(S)endo-me, ponho-me a espiar a vida, e seguro nas mãos uma solidão doloridamente insuportável, cheia de ausentes-presenças- falantes, dos lugares por onde andei, das pessoas que ganhei, daquelas que perdi, sem nem mesmo saber o como...sem entender sequer se houve um talvez.

talvez, é a palavra mais ferina e acre.

talvez...se pudesse viver de novo.

talvez...se pudesse passar a limpo.

talvez...se outras escolhas.

talvez!

advérbio tinhoso e martelante, incógnita destes meus existires.

um tanto-muito desventada,feito páginas velhas de letras esmaecidas por descuidos, ou desusos.

misturada, emoções plasmadas e retidas no palato da alma, travadas na minha mais irrestrita incompetência , por não saber o que fazer delas.

escreViver de palavras pode ser livramento, mas é também amargoso , quando o Verbo revira-se maior que nossa miudeza, editando confundimentos em nossos olhares, rasurando perceberes, macerando claudicantes certezas, replicando infinitos de incertezas.

dor de incerteza é aguda.

finca !

fuso afiado na mó do destino, tecido no tear das parcas, que sem aviso prévio azucrinam seus dedos , e cortam o fio da nossa meada, desnovelando as fibras, embaraçando os fios da vida.

o que me adoece mesmo é esta insuportablIdade -estática diante as multipliCidades dos meus sentires,dúbios-fundos-confusos.

meu cão é sábio, conserva um permanente brilho de alegria no amarelo dos olhos, nos latidos ternuras saltando sobre mim, independente desta persistente fundeza, ele me acolhe sem questionamentos,sem variantes.

como ele, estas delicadas violetas e valentes orquídeas, florando e acontecendo aqui , dentro das normalidades de suas naturezas.

eu que tantas vezes nem rosno...incontáveis estações nunca desfloro,suplico aprendizados.

eles sorriem e me abraçam , entre suas patas e pétalas aquecidamente amorosas.enrosco-me por serenidades.

padeço é de ser gente.

quem sabe, um dia, talvez.... com meu cão , com meu jardim....aprendo.


nanamerij

janeiro/2008
_delicadas...as lembranças_



se ainda te falo tudo que sinto é porque sei...na tua boca ficou o gosto que deixei,se não suportamos o tempo...se o tempo não nos suportou, não importa...
nos meus olhos , oceanos de teus olhares ,minhas mãos amorizadas pelo amor que me ensinastes
e...este jeito de catar estrelas,de beber ventos, de mastigar serenos.


isadora dançando em matas ,ainda existo desenhando virtuoses de nossos ternos momentos
se ainda te falo tudo e tanto, é porque sei ...ainda me sentes.
afinal,madurei nos teus dentes.

nanamerij

janeiro/2008


_ águas necessárias_

não sei se o tempo me acontece, ou se aconteço no tempo.
em noites de lua cheia costumo uivar, junto-me aos lobos.
nas manhãs de abril, visto-me em contrições. ungida por resguardos de quaresma ando nos roxos-paixão, viuvando conformidades em respeitoso pranto, por cada cristão, dentro de mim - morto.
nunca sei minha meteorologia, mesmo em dias solares....dou de chover.
dizem :
- melancolia...emoções instáveis.
desdigo:
-descarrego de fardos ,cumulação de nuvens, sofrimento de densidades.
chovo :
por desalegrias
por desempatias
pode ser...pode até nem ser.
não me importam as causas, não busco saber verdades.
simplesmente chovo!

chovo-me por desesperada necessidade.
nanamerij
janeiro/2008